– Artigo originalmente publicado no blog da Mind the Trash
No nosso caminho em direção a um estilo de vida mais sustentável, muitas vezes focamo-nos nas mudanças externas. No entanto, existe um aspecto fundamental que merece igualmente a nossa atenção: o desenvolvimento interno.
Neste artigo, exploraremos como os Objetivos de Desenvolvimento Interno estão intrinsecamente ligados à criação de um mundo mais sustentável e como esses objetivos nos podem capacitar a enfrentar os desafios mais urgentes da nossa era.
Tive oportunidade de ouvir a Vanda de Vasconcelos e Sousa falar deste tema na conferência do BCSD Portugal que aconteceu em Junho de 2023 e fiquei completamente apaixonada pelo tema! Foi como se tivesse encontrado algo que está completamente de acordo com aquilo em que acredito e que se encaixa na perfeição com a visão que tenho do meu trabalho, propósito e missão.

O que são os IDGs (Internal Development Goals)?
São um conjunto de habilidades que todos nós precisamos de desenvolver para conseguirmos atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) até 2030, já aqui abordados no blog.
São 23 habilidades divididas em 5 categorias: SER, PENSAR, RELACIONAR, COLABORAR e AGIR.

Uma breve explicação de cada uma:
Ser – Relação interior
Cultivar a nossa vida interior, desenvolver e aprofundar a nossa relação com os pensamentos, emoções e corpo permite-nos estar no presente, ser intencionais e não-reativos quando nos deparamos com complexidades.
Bússola Interna – Ter um sentido de responsabilidade profundo e de compromisso com valores e propósitos relacionados com o bem do todo.
Integridade e Autenticidade – Um compromisso e habilidade para agir com sinceridade, honestidade e integridade.
Mentalidade Aberta e de Aprendiz – Ter uma mentalidade básica de curiosidade e disposição para ser vulnerável. Abraçar a mudança e crescer.
Consciência Interior – Capacidade de estar em contato reflexivo com os próprios pensamentos, sentimentos e desejos; ter uma imagem realista de si mesmo e habilidade para se autorregular.
Presença – Capacidade de estar no aqui e agora, sem julgamento, num estado de presença e abertura.
Pensar – Habilidades cognitivas
É essencial desenvolver as nossas habilidades cognitivas ao adotar diferentes perspectivas, avaliar informações e compreender o mundo como um todo interconectado de modo a tomar decisões sensatas.
Pensamento Crítico – Habilidade para analisar criticamente a validade de opiniões, evidências e planos.
Percepção de Complexidade – Compreensão e habilidade para trabalhar com condições complexas e sistémicas e respectivas causas.
Perspectiva – Habilidade para procurar, compreender e utilizar ativamente insights de perspectivas contrastantes.
Significação – Habilidade para identificar padrões, estruturar o desconhecido e criar narrativas conscientemente.
Orientação a Longo Prazo e Visão – Orientação a longo prazo e habilidade para formular e manter compromisso com visões relacionadas com um contexto mais amplo.
Relacionar – Importar-se com os outros e com o mundo
Apreciar, cuidar e sentir-se conectado aos outros, como vizinhos, gerações futuras ou à biosfera, ajuda-nos a criar sistemas e sociedades mais justas e sustentáveis para todos.
Apreço – Relacionar-se com os outros e com o mundo com um sentido básico de apreço, gratidão e alegria.
Conexão – Ter uma forte sensação de estar conectado e/ou ser parte de um todo maior, como uma comunidade, a humanidade ou um ecossistema global.
Humildade – Ser capaz de agir de acordo com as necessidades da situação, sem se preocupar com a própria importância.
Empatia e Compaixão – Habilidade de se relacionar com os outros, consigo mesmo e com a natureza, com gentileza, empatia e compaixão, e abordar o respectivo sofrimento.
Colaborar – Habilidades sociais
Para progredirmos nas preocupações de todos, precisamos de desenvolver as nossas habilidades para incluir, criar espaço e comunicarmos com stakeholders que possuem valores, habilidades e competências diferentes.
Comunicação – Capacidade de ouvir verdadeiramente os outros, promover diálogos genuínos, defender de forma habilidosa as suas próprias opiniões, gerir conflitos de forma construtiva e adaptar a comunicação a grupos diversos.
Co-criação – Habilidades e motivação para construir, desenvolver e facilitar relacionamentos colaborativos com diversas partes interessadas, caracterizados por segurança psicológica e co-criação genuína.
Mentalidade Inclusiva e Competência Intercultural – Disposição e competência para abraçar a diversidade e incluir pessoas e grupos com diferentes visões e origens.
Confiança – Capacidade de demonstrar confiança e criar e manter relacionamentos de confiança.
Mobilização – Habilidade de inspirar e mobilizar outros no envolvimento em propósitos compartilhados.
Agir – Facilitar a Mudança
Qualidades como coragem e otimismo ajudam-nos a adquirir uma verdadeira capacidade de agir, romper padrões antigos, gerar ideias originais e agir com persistência em tempos incertos.
Coragem – Capacidade de defender valores, tomar decisões, agir de forma decisiva e, se necessário, desafiar e perturbar estruturas e visões existentes.
Criatividade – Capacidade de gerar e desenvolver ideias originais, inovar e estar disposto a romper padrões convencionais.
Otimismo – Capacidade de sustentar e comunicar um sentido de esperança, atitude positiva e confiança na possibilidade de mudanças significativas.
Perseverança – Capacidade de manter o empenho, permanecer determinado e paciente mesmo quando os esforços levam muito tempo para dar frutos.
Agora que percebemos o que é cada uma das habilidades dos Objetivos de Desenvolvimento Interno, tenho um pequeno exercício para ti.
Visualização:
Fecha os olhos, respira fundo, e imagina como seria o mundo se cada um de nós decidisse trabalhar algumas destas 23 habilidades?
Eu imagino um mundo em harmonia, em que existe uma enorme conexão entre seres humanos, natureza e todos os outros seres. Em que cada um de nós tem consciência do seu impacto. Em que existe uma visão comum e em que cada um de nós tem um compromisso diário para cumprir essa visão, com alegria e leveza.
Um mundo em que damos e recebemos em equilíbrio. Um mundo de empatia, compaixão e cooperação. Crescemos e evoluímos em conjunto e queremos apenas o melhor para todos. Um mundo de optimismo e de perseverança. Um mundo em que o ritmo da sociedade dança ao ritmo da natureza. Um mundo em que os desafios são oportunidades de evolução. Um mundo em que estamos realmente presentes.
Acredito que é mesmo possível lá chegarmos! E esta crença é fundamental para continuar o meu trabalho, para viver bem e feliz! Pois se não acreditasse, que sentido faria tentar tornar o mundo um lugar melhor e dar o meu melhor todos os dias?
O que precisamos para caminharmos nesta direção?
1| Uma nova liderança
Muitos líderes estão infelizmente desconectados da realidade. Ouvir, um dos aspectos-chave dos Objetivos de Desenvolvimento Interno, é uma das habilidades mais importantes que precisamos de desenvolver. Apenas quando começamos a ouvir ativamente, podemos compreender as necessidades reais do mundo à nossa volta.
2| O Ciclo Inato do Crescimento
Estamos destinados a crescer e a evoluir e não temos como fugir disso, por mais que tentemos controlar tudo e acreditemos no contrário. “A mudança é a única constante da vida”. (Heraclitus)
Portanto, o melhor será direcionar essa mudança para algo positivo. Acredito que as habilidades referidas nos Objetivos de Desenvolvimento Interno são a chave para nossa transformação pessoal e coletiva.
3| A Mudança de Paradigma Necessária
O mundo moderno tem-se dedicado sobretudo ao desenvolvimento externo, mas chegamos a um ponto crucial em que uma perspectiva interior precisa de se unir à externa. Para alcançarmos os objetivos de sustentabilidade, é imperativo trabalhar no nosso desenvolvimento interno.
A maneira como abordamos os problemas e tomamos decisões precisa de evoluir.
Como disse Einstein:
“Não podemos resolver os problemas no mesmo nível de consciência em que os criamos”
– Albert Einstein
Para enfrentar desafios globais como a perda de biodiversidade, mudanças climáticas e colapso de ecossistemas, precisamos de fazer evoluir a nossa consciência.
É fundamental reconhecer que, para além de todos os problemas ambientais, enfrentamos desafios maiores como o egoísmo, a ganância e a apatia. Para superar esses desafios, precisamos de uma transformação espiritual e cultural profunda.
A busca pela sustentabilidade não se pode focar apenas na implementação de soluções práticas. Envolve uma transformação profunda na nossa mentalidade e nos nossos valores.
Ao integrar o crescimento pessoal com a busca por um mundo melhor, estaremos a contribuir de uma forma significativa para uma sociedade mais consciente e mais sustentável.
Gostaria de terminar este artigo com um desafio para ti: de todas estas habilidades, qual é aquela que sentes que é importante começares a trabalhar já? E como queres contribuir para uma sociedade mais consciente e mais sustentável?