Minimalismo Digital

O minimalismo pode ser aplicado a todas as áreas da nossa vida. 

Em todas elas, acredito, é uma forma de assumirmos o controlo da nossa vida. 

Quando definimos o essencial, isso empodera-nos. Deixamos de estar reféns da tralha que temos, da publicidade, das promoções, da opinião dos outros… é como se conseguíssemos ter mais liberdade e um sentido crítico mais apurado. 

A área digital não é excepção.

Diria até que é umas das áreas em que mais precisamos de estar vigilantes, de definir o que é realmente essencial. Precisamos de assumir o controlo das nossas vidas digitais, como refere Cal Newport no seu livro “Minimalismo Digital”.
O minimalismo digital é muito mais do que um conjunto de regras, é um cultivar de uma vida que vale a pena ser vivida na nossa era atual de aparelhos digitais”.

No fundo, trata-se de utilizar a tecnologia a nosso favor e não o contrário, como tem acontecido cada vez mais. Quantas vezes não abrimos uma rede social para pesquisar uma coisa específica e passado 20 ou 30 minutos ainda lá continuamos, mas sem saber o que tínhamos ido procurar inicialmente? Não é por acaso que isto acontece, a tecnologia tem este efeito aditivo e é desenvolvida precisamente com este propósito. É este o grande objectivo da chamada “Economia da atenção”. Todas as empresas do mundo digital ganham dinheiro desta forma: atraindo a nossa atenção. E é cada vez mais fácil fazê-lo! Passamos grande parte do dia em frente a ecrãs e temos muita dificuldade em resistir aos anúncios, todos os pop-ups que vão saltando, aos vídeos sugeridos “Oh, é só mais um vídeo”. E parece até que dependemos dos nossos telefones para tudo, já não sabemos viver sem eles!

A tecnologia é (pode ser) maravilhosa e o meio digital trouxe muitas coisas boas à nossa vida. É um pouco como o plástico, é um material fantástico que veio revolucionar as nossas vidas e que salva vidas, todos os dias, o grande problema é a forma desmesurada como o usamos.

Com a tecnologia não é muito diferente.

Por esse motivo, permaneço neste mundo digital e tecnológico, sim, mas com regras. É uma escolha consciente da minha parte. 

Ponderei, durante o último ano sobretudo, se deveria continuar nas redes sociais, pois sempre senti alguma exaustão ao fim de algum tempo, um desconforto por pensar que estava a contribuir para algo que tem tantos malefícios. Afinal nós deveríamos estar a aproveitar a vida cá fora e não dentro de um ecrã, certo?

Logo, de seguida, penso que se as vozes que pensam de forma diferente, aquelas que promovem o uso consciente das redes sociais, os slow media, se afastarem das redes sociais, como é que se muda esse mundo? O que permanece? Temos que estar onde somos vistos e ouvidos, onde podemos fazer a diferença. Claro que só faz sentido permanecer com um propósito, com consciência e, por isso, com regras. As regras não nos limitam, pelo contrário, fazem-nos crescer, tirar mais partido da tecnologia, usá-la a nosso favor, continuar a passar a mensagem de uma forma leve e sem nos deixarmos consumir por ela.

Esta minha mudança de mindset e a vontade de permanecer nas redes sociais aconteceu depois de ter lido novamente o livro do Cal Newport. Procurei mais informação, estudei estes temas, sublinhei o livro, tirei notas e comecei a colocar em prática. Este livro levou-me ainda mais fundo, mesmo depois de já ter alterado muita coisa na minha forma de viver e de lidar com a tecnologia. Foi como se tivesse encontrado uma forma de acalmar todas as minhas inquietações quanto ao permanecer ou não nas redes sociais.

No entanto, tudo isto trouxe-me ainda mais consciência do que está a acontecer. Quanto mais descubro mais fico chocada com o impacto que está a ter na nossa saúde mental, mas sobretudo na saúde das nossas crianças.  É mesmo isto que queremos para o nosso futuro?

Já há vários anos que tenho muito poucas notificações no telefone, controlo o tempo que estou no telefone, reduzo ao máximo as fontes de informação, tenho o computador organizado, etc.  Mas após 10 anos de minimalismo (também muita coisa mudou na era digital), estou a permitir-me ir um pouco mais além, sem medos. Não é por estar menos tempo nas redes sociais que vou prejudicar os meus projectos ou deixar de ter clientes. Provavelmente desta forma atraio as pessoas certas, que realmente também querem fazer parte desta revolução digital!

O grande objectivo de trazer o minimalismo para a nossa vida digital é simples: encontrarmos uma maneira construtiva de utilizar a tecnologia a nosso favor. A tecnologia serve-nos a nós e não o contrário. Controlamos o que usamos, qual o motivo, quando usamos e durante quanto tempo.

Se gostaste deste tema, fica atenta/a ao próximo post ou subscreve a newsletter! Vou trazer um desafio proposto pelo Cal Newport no seu livro, para que possamos fazê-lo todas/os juntas/os.

Referências:
– “Minimalismo digital – viver melhor com menos tecnologia” – livro do Cal Newport
– O dilema das redes sociais – trailer e documentário na Netflix
Tristan Harris – Presidente do Center for Humane Technology
O manifesto dos Slow Media

  • Foto: Abigail

    Ana Milhazes, Socióloga, Coach, Formadora, Instrutora de Yoga, fundadora do Lixo Zero Portugal

    Bem-vindos ao Ana, Go Slowly!

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