Escrever um livro não é um processo fácil, sobretudo um primeiro livro. Aliás escrever sobre um determinado tema quando a nossa vida vai num reboliço cá dentro é um desafio e tanto.
Quando começamos a destralhar, não destralhamos só a nossa casa, destralhamos a nossa vida e a nossa mente. Cada detalhe é avaliado. Só depois decidimos aquilo que permanece.
A tralha mental tem outra particularidade, bem semelhante à tralha física: quando começamos a mexer não podemos ficar pela metade. Temos que ir até ao fim. Durante o processo de escrita, tive vários desafios pessoais que tive que ultrapassar. Não teria conseguido escrever se não tivesse arrumado essa tralha, se não tivesse descartado todo esse lixo.
Quando escrevemos um livro, sobretudo quando o mesmo reflecte o nosso estilo de vida e quem somos, somos mesmo obrigados a olhar para dentro. Isso faz-nos ponderar muitas situações e analisar tantas outras. Eu só consigo partilhar a minha verdade, não faria sentido de outra forma.
Portanto este livro sou eu, é a minha vida…
E depois há sinais… Sinais que são tudo! Assinei o contrato com a Bertrand e enviei-o do meu querido Alentejo, quando estava por lá de férias. Enviei também a versão inicial e a versão final do livro, do Alentejo. Portanto só pode ser um bom sinal! Quem me segue desde o início conhece a minha paixão pelo Alentejo e a minha enorme vontade de ir para lá viver, praticamente desde que criei o blog!
Entendi mais umas peças do puzzle da minha vida durante a escrita do livro. Trabalhei durante quase cinco anos na área de controlo de qualidade de software, habituei-me a estar atenta ao detalhe, sou daquelas pessoas que quando abre uma página de um livro vê imediatamente as gralhas. Isso foi-me tão útil! Sobretudo quando li o livro pela milésima vez ou mesmo quando já não consegui ler tudo como queria pelos prazos que tinham que ser cumpridos.
O processo de escrita passa muito pela inspiração mas também pela disciplina. Tive que me obrigar a escrever nas férias, a dar menos atenção ao meu namorado, aos meus amigos e à minha família. Tive que escrever tantas vezes quando me sentia bem lá no fundo, a relembrar coisas do passado, a organizar a casa e a mente depois das sessões de psicoterapia.
Decidi (há muito tempo, numa espécie de compromisso com a vida) que só assim faz sentido. Enquanto cá estiver vou trabalhar tudo o que tiver que ser trabalhado e vou mesmo lidar com todo o meu “lixo” interno.
Houve muitas coisas que ainda não partilhei mas que decido partilhar hoje.
Hoje que me abro um pouco mais, através do meu primeiro livro.
Passei por uma adolescência difícil, em que a depressão e as tentativas de suicídio estiveram várias vezes presentes. Passei por relações abusivas que deixaram várias marcas, muitas delas estão ainda a ser trabalhadas.
Tudo isto é um trabalho de uma vida. O yoga, a meditação, a psicoterapia e todo o trabalho diário de desenvolvimento pessoal que faço comigo mesma permitem-me curar estas feridas todos os dias, um bocadinho mais.
A defesa do ambiente, este amor maior que trago dentro e que me acompanha desde sempre, é também parte desta cura. É ele que permite a auto-superação: falar em público quando é tudo o que menos quero, escrever quando só me apetece estar num canto a chorar, lidar muitas vezes com pessoas difíceis, saber de tantas outras que agem mal… às vezes sinto que vejo tudo demasiado cor-de-rosa, acredito sempre na ingenuidade, na bondade, na verdade. Prefiro mesmo não ver o lado mau, desonesto, mentiroso, cínico, dissimulado. Por mais situações que me aconteçam, vou continuar a acreditar no bem, no bom, no melhor de tudo.
Só assim é que a vida faz sentido! É também por isso que acredito na humanidade, na vida, no nosso planeta. Prefiro continuar com estes óculos e estas lentes do bem.
As palavras nunca serão suficientes para agradecer à vida, às minhas pessoas e a cada um de vocês que está desse lado. Gostava mesmo de dizer à Ana adolescente que a vida lhe irá sorrir no futuro. Ainda bem que ela não desistiu e continuou cá. Sei que hoje ela está feliz.