De que serve ganharmos muito dinheiro se isso nos obriga a passarmos mais tempo afastados de amigos e família, se nos obriga a perder tempo no trânsito e, pior de tudo, se nos tira a nossa saúde?
Ficar doente fez-me ver o dinheiro de uma perspectiva completamente diferente!
Trabalhamos mais horas = Ganhamos mais dinheiro = Temos possibilidade de comprar mais coisas = Temos mais trabalho a cuidar das coisas = Perdemos mais tempo = Ficamos mais stressados e doentes
Muitas vezes nem temos tempo de usufruir da maior parte das coisas que compramos! Demasiadas coisas permanecem em caixas, muitas peças de roupa continuam com as etiquetas…
Para além disso, como trabalhamos mais achamos que nos devemos presentear comprando mais coisas. Afinal nós merecemos!
No fundo é um ciclo vicioso e quanto mais compramos, mais queremos comprar. Tudo passa a ser uma necessidade. Nem nos permitimos perceber como seria viver “sem”.
O melhor de tudo é que o ciclo funciona exactamente da mesma forma ao contrário: quanto menos compramos, menos queremos comprar.
Se reduzirmos as nossas despesas e necessidades, precisamos de trabalhar menos, logo teremos mais qualidade de vida e mais tempo com aqueles que amamos ou simplesmente para fazer o que gostamos.
Já desde 2011 que faço questão de recusar tudo aquilo que não considero essencial na minha vida. Não sou perfeita. Mas sei que aquilo que vivi me ajudou muito quando tomei a decisão de me despedir há 1 ano atrás: por um lado consegui poupar imenso dinheiro de 2011 até então e por outro, sabia que se precisasse poderia reduzir ainda mais as minhas despesas (“downsizing“). Para além de praticar o desapego, sei que aquilo que é essencial é efectivamente pouco.
Esta foi a liberdade que o minimalismo me deu. Posso escolher as horas em que trabalho, as pessoas com quem trabalho e não me sentir influenciada pelos hábitos de consumo da sociedade em que vivemos. Não tenho que trabalhar mais porque simplesmente não quero gastar mais.
Passei a ter uma relação muito mais saudável com o dinheiro. Tinha um discurso muito focado na escassez “preciso de poupar mais” “não me posso despedir porque fico sem dinheiro para pagar as despesas” “o que gosto de fazer não me paga as contas” “nunca irei conseguir trabalhar por conta própria/a fazer o que gosto” “não sou rica, não posso despedir-me”.
Foi preciso desconstruir tudo isto e passar a ver exactamente ao contrário.
“O dinheiro que poupei ao longo de 6 anos é suficiente para pagar as contas e ficar sem trabalhar durante algum tempo”. “Tenho imensas coisas que posso vender, se precisar de mais dinheiro”. “Consigo viver com apenas o essencial e portanto as despesas podem reduzir ainda mais, se necessário”. “Tenho dinheiro suficiente para comprar tudo aquilo que preciso”. “Consigo viver daquilo que adoro fazer!” “Ganhar mais dinheiro não traz felicidade, pelo contrário”. “Sou feliz com apenas o dinheiro suficiente”.
Fui durante muito tempo descrente do poder das afirmações. Achava que a lei de atracção só funcionava nos filmes e nos livros. Tive que experimentar para perceber que era exactamente assim.
Quanto mais nos focarmos na falta de dinheiro, no que ainda precisamos de ganhar para sermos felizes, no que temos que comprar porque não conseguimos viver sem, não iremos atrair mais dinheiro. Será sempre um discurso de escassez e não de abundância.
E abundância gera abundância. Assim como escassez gera mais escassez.
Ainda vivemos muito de aparências e preocupamo-nos demasiado com o que o outro vai pensar.
Adoro a frase do Dave Ramsey que acompanha este post: “Compramos coisas que não precisamos, com dinheiro que não temos para impressionarmos pessoas de quem não gostamos”.
Ou nos focamos nos outros e nas aparências ou simplesmente nem nos damos ao trabalho de perceber se determinada coisa é ou não essencial. De alguma forma, consideramos que o facto de “viver sem” é mau. Afinal se sempre vivemos dessa forma, deixar de ter algo é uma privação! Aqui está o apego…
Penso exactamente o contrário. Sinto-me livre por ter muito pouco. O pouco é definitivamente muito. É liberdade. É qualidade de vida. É felicidade. É leveza. É ter o poder de escolha.
Praticar o desapego não é fácil. Mas é tão compensador.
Já tive que recomeçar do zero, algumas vezes. Poderia vê-lo como algo negativo, mas vejo cada recomeço como uma oportunidade de redefinirmos a nossa vida, de nos voltarmos para dentro e de nos focarmos naquilo que é absolutamente essencial. Talvez seja mesmo essa a mensagem que o universo nos quer transmitir.