Hoje relembro a edição de Março de 2016 da revista Saber viver, onde fui entrevistada para um artigo sobre minimalismo 🙂
Neste post publico aquilo que saiu na revista e mais algumas dicas que não foram publicadas.
E sim, sou eu de cabelo louro, o meu cabelo já foi assim!
– O que é para si o minimalismo, o «less is more»?
É vivermos com o essencial, aquilo que nos faz realmente felizes e que nos faz sentir bem.
Nem sempre é fácil fazer esta análise. Estamos de tal forma condicionados que muitas vezes consideramos o acessório como essencial. A nossa sociedade acabou por mudar totalmente o conceito de essencial… É preciso libertarmo-nos daquilo que nos é imposto, pararmos um pouco e pensarmos realmente: o que me faz realmente falta? Não conseguiria viver sem…?
É também o fazer menos mas com mais qualidade e dedicação. É o aproveitar cada momento e vivê-lo intensamente e o valorizar os pequenos nadas (que afinal são tudo)!
Uma vida mais simples, mais organizada, mais de acordo com aquilo que gostamos e com aquilo que somos, traz uma tranquilidade e paz de espírito enormes.
– Como o descobriu na sua vida e em que se inspira?
Em Agosto de 2011 comecei a procurar informação sobre como me organizar melhor e como manter a casa em ordem de uma forma fácil. Sentia que tinha demasiadas coisas para fazer e na altura achava que apenas tinha que me organizar melhor, fazer as coisas de uma outra forma ou por outra ordem.
Comecei pelo quarto e pelas roupas… Tinha feito uma lista enorme de coisas que queria comprar só para organizar a tralha que tinha: caixas grandes, caixas pequenas, cabides, prateleiras, enfim…
Mas nunca me passou pela cabeça que deveria fazer e ter menos coisas!
E foi assim que ao ler sobre organização acabei por descobrir o minimalismo…
Lembro-me que quando comecei a ler sobre o assunto tudo me pareceu fazer muito sentido. Foi como se tivesse encontrado o estilo de vida perfeito! Percebi que os minimalistas eram pessoas felizes, que sabiam realmente viver a vida e aproveitá-la ao máximo e foi aí que decidi que também queria o mesmo para mim, pois apesar de ter “tudo” o que supostamente me poderia fazer feliz, faltava qualquer coisa…
Inspiro-me em diversos blogs minimalistas que acompanho e também no meu dia-a-dia, em livros, na música, no yoga, em filmes, no meu cão e em simples conversas.
Às vezes preciso de me desconectar de tudo (ou pelo menos das coisas que me sugam mais energia) para voltar a sentir-me ligada a mim própria e àquilo que é realmente importante para mim.
– De que forma o aplica na sua vida? O que mudou ao longo dos tempos?
Comecei por aplicá-lo nas coisas (objectos, roupas), acho que isso é sempre o mais fácil. No entanto, diria que os maiores ganhos estão precisamente no resto, quando nos livramos de preocupações, de medos, de expectativas, de crises de ansiedade (que no meu caso tinha diversas vezes). Essencialmente ganhei tempo para o que é realmente importante. Deixei de perder horas e horas em limpezas (porque queria ter sempre tudo perfeito). Agora a tralha diminuiu e as expectativas também.
Uma das grandes descobertas desta viagem é que uma casa com apenas o essencial faz toda a diferença! Geralmente gastamos horas e horas a tratar da casa e perdemos horas do nosso fim-de-semana a fazê-lo, quando deveríamos aproveitar esse tempo para fazer tantas outras coisas que nos fazem sentir bem e viver melhor.
A minha casa ficou mais simples, mais organizada e de fácil manutenção.
Acho que este post resume bem este estilo de vida:
Este post resume as transformações que a minha casa sofreu:
Em 2013 livrei-me de 2013 coisas:
No entanto, um dos princípios mais importantes do minimalismo não é só livrarmo-nos de coisas, é, sobretudo, focarmo-nos no essencial. Muitas vezes até acabamos por adicionar mais coisas, pois aqui não se trata de eliminar só por eliminar. Apenas eliminamos o que não faz falta, justamente para acrescentar aquilo que faz.
E foi assim que descobri o yoga. Foi amor à primeira prática. É algo que me faz estar em conexão comigo mesma e com o mundo. Em agosto do ano passado concluí o curso de instrutores de yoga e recentemente comecei a dar algumas aulas (que tento conciliar com o meu trabalho). É algo extremamente gratificante.
Também passei a acordar cedo e a aproveitar bem as manhãs:
Em jeito de resumo, estas são as vantagens de uma vida minimalista:
MAIS
– Momentos de qualidade com família e amigos
– Leitura
– Exercício físico
– Gratidão
– Sono de qualidade
– Tempo livre
– Vida saudável
– Calma e paciência
– Escrita
– Vezes a dizer “não”
– Felicidade
– Amor-próprio e autoestima
– Espiritualidade
– Silêncio
– Desapego
– Poupança
– Tranquilidade
– Tempo para os outros
– Relaxamento e respiração profunda
MENOS
– Coisas para arrumar
– Limpezas para fazer
– Pessoas tóxicas
– Preocupações e cismas
– Problemas de saúde
– Multi-tasking
– Consumo
– Roupa
– Pressa
– TV
– Tralha
– Papel
– Vontade de agradar aos outros
– E a sua família, como aceita, como aceitou?
Penso que aceitou bem até porque com o minimalismo aprendi justamente que devo respeitar o outro e não impor a minha opinião e as minhas vontades.
Claro que a outra pessoa também deve respeitar o nosso espaço e se o queremos arrumado co o mínimo de coisas possível, a outra pessoa deve respeitar isso e não encher os nossos espaços com a sua tralha. Portanto o respeito deverá ser mútuo.
Acho que quando os outros se apercebem que é algo que nos traz felicidade aceitam melhor.
Inevitavelmente alguns familiares e amigos acabam por seguir algumas das dicas, porque percebem que ajuda imenso no dia-a-dia. Acho que hoje toda a gente está cansada de andar sempre a correr de um lado para o outro com 1001 coisas para fazer e a filosofia do “less is more” ajuda-nos a sair desse modo automático e a focar apenas no essencial.
Na nossa casa, acabamos por influenciar quem vive connosco. Vivo com o meu marido e o nosso cão. Os animais são minimalistas por natureza, basta-lhes o essencial e a nossa companhia e são muito felizes. O meu marido já era uma pessoa bastante organizada e obviamente que isso ajuda imenso, no entanto sempre gostou de guardar imensas coisas (sobretudo antigas). Naturalmente, acabou também por se livrar de diversas coisas e inclusivamente ajudou-me no projecto 2013 em 2013 que consistiu em livrarmo-nos de 2013 coisas nesse ano! (e conseguimos cumprir o objectivo)
Acima de tudo não devemos esquecer que as pessoas mais importantes para nós são muito mais importantes do que qualquer desejo minimalista/de destralhar/arrumar e por isso devemos respeitar o espaço e opinião do outro.
– Como surgiu o blogue e qual a importância do mesmo nos seus objectivos?
Criei este blog porque precisava de algo que me “obrigasse” a ser mais calma, mais feliz, a redescobrir os simples prazeres da vida e também onde pudesse partilhar tudo isto com os outros.
Já tinha tido um blog há uns anos atrás e sempre gostei muito de escrever. Quando descobri o minimalismo senti-me tão inspirada que escrevia todos os dias! Comecei a ler imenso sobre este assunto e tudo aquilo que lia inspirava-me a mudar algumas coisas na minha casa e também na minha vida e forma de estar. Naturalmente senti necessidade de escrever tudo isso para mais tarde recordar e relembrar o que essa mudança tinha trazido à minha vida. Comecei por escrever numa espécie de diário e só mais tarde resolvi criar o blog. Para além de minimalismo, escrevo também sobre outras coisas que de certa forma estão relacionadas, como vida e alimentação saudável.
Dar um nome ao blog não foi difícil, sempre gostei do mantra “Smile, breathe and go slowly” do monge budista Thich Nhat Hanh e precisava de algo que me relembrasse que posso sempre andar mais devagar…
E assim nasceu o Ana Go Slowly, um espaço onde registo tudo aquilo que me faz feliz, partilhando-o com os outros, e que me relembra que tenho que abrandar, todos os dias.
– Que conselhos/poderia deixar aos leitores
Começa por aquilo que não usas há uma data de tempo e que sabes que à partida não irás usar. A seguir livra-te das coisas que não gostas ou que te fazem lembrar de coisas menos boas ou que simplesmente dão demasiado trabalho a limpar.
Eu queixava-me que passava os fins-de-semana inteiros a limpar mas nunca me lembrei que me poderia livrar do que dava mais trabalho a limpar e a arrumar! E porquê? Porque aceitei que era assim, que era suposto, que deveria ter isto ou aquilo, que fazia parte de uma casa “normal” e que toda a gente tinha.
Algumas dicas:
- Define as 3 tarefas mais importantes do teu dia e concentra-te apenas nelas
- Deixa de passear em shoppings
- Conhece-te melhor
- Foca-te nas coisas boas
- Foca-te momento presente, o importante é viver no aqui e no agora
- Acorda mais cedo
- Arranja um frasco vazio e todos os dias coloca lá 3 pedacinhos de papel, regista em cada um uma coisa boa desse dia. No final do ano ou sempre que precisares lê o que escreveste
- Remove todas as coisas que tens nos balcões da cozinha. Ficas com mais espaço para cozinhar e o espaço parece logo maior
- Na zona de entrada da tua casa coloca uma caixa grande e vai deixando aí as coisas para dar. Quando estiver cheio, entrega a alguém a alguma instituição que necessite
- Desliga-te do mundo de vez em quando (isso inclui telefone, computador, televisão…)
- Pega num papel e escreve todos os teus compromissos diários e elimina os menos importantes Reduz a tua agenda
- Tira tudo da mala: papeis, talões, cartões, agenda e faz uma limpeza. Precisas de andar assim tão carregada?
- Antes de comprares material de organização livra-te das coisas que ias simplesmente guardar em caixas e que não sabes quando ias voltar a usar (Se precisas de comprar coisas para arrumar outras coisas, então talvez tenhas coisas a mais)
- Deixa de comer aquilo que te faz mal
- No teu armário da roupa, à medida que fores usando uma peça coloca o cabide no sentido contrário. No final da estação/ano livra-te daquilo que não usaste
- Se achas demasiado radical livrar-te das coisas, vai guardando as coisas que não usaste numa caixa. Após um ano se não tiveres tido necessidade de ir buscar nada à caixa, fecha-a e entrega-a numa instituição
- Experimenta usar vinagre e bicarbonato de sódio nas limpezas. É muito mais económico!
Mais algumas dicas aqui: http://anagoslowly.blogspot.pt/2013/07/pequenos-shortcuts-no-dia-dia.html
– Que passos pretende dar no futuro, qual é o caminho?
Quero continuar a seguir este caminho do minimalismo e a inspirar os outros a fazê-lo também. Quero que o blog cresça cada vez mais e chegue a mais pessoas.
Adoro partilhar aquilo que escrevo e gosto imenso de ter o feedback dos leitores. Não há nada mais gratificante do que sabermos que fizemos a diferença na vida de alguém.