Comecei a meditar há alguns anos (os benefícios são inúmeros e já foram confirmados pela comunidade científica) mas nunca tive uma pratica muito consistente.
A altura em que consegui ter alguma consistência foi também a altura em que meditava durante mais tempo, cerca de 45 minutos (mas estávamos 1h na posição de meditação). Foram 21 dias (dizem que precisamos de 21 dias seguidos para adquirir um novo hábito) e podia ter aproveitado a onda, mas isto aconteceu na altura em que tirei o curso de instructora de yoga, depois regressei ao trabalho, mudei completamente as rotinas e não soube adaptar à meditação aos meus dias.
Acabava por meditar quando sentia necessidade e apenas mantinha o hábito durante alguns dias seguidos, apenas quando conseguia meditar mal acordava.
Percebi agora que estava a complicar demasiado… “só posso meditar antes de nascer do sol” (eu acordo por volta das 6h), “só posso meditar de estômago vazio”, “só posso meditar quando houver silêncio total”, “só posso meditar quando a minha vida estiver mais tranquila”…
Se estivermos à espera de todas estas condições, então é que nunca mais começamos a meditar…
Na escola onde pratico yoga, e onde às vezes dou aulas, tem havido uma prática de meditação mensal com o João Sá do Centro Budista do Porto.
O João é uma pessoa maravilhosa… E só de falarmos com ele sentimo-nos completamente em paz. Na última sessão ele disse uma coisa que fez tanto sentido (já não me lembro das palavras exactas mas o sentido era este):
“A vida não tem que ser perfeita para praticarmos meditação.
A vida fica mais perfeita quando praticamos meditação”
Portanto, não temos que estar à espera das condições perfeitas para meditar, devemos meditar e depois o resto virá. Se estivermos à espera da vida perfeita, então nunca mais conseguimos meditar! Se os nossos vizinhos fazem barulho meditemos sobre o barulho dos vizinhos, aprendamos a incorporar esses barulhos na nossa prática de meditação, pois se estivermos à espera do silêncio total ficaremos eternamente à espera…
O João descomplica tudo e isso dá-nos uma perspectiva completamente diferente… achamos, muitas vezes, que a meditação é algo bastante sério e que tem que seguir regras muito rígidas… mas não tem! Devemos adaptá-la à nossa forma de estar e viver. Basta estarmos num sítio onde sabemos que não nos vão interromper, numa posição confortável que poderá ser sentado no chão/almofada/cadeira, de joelhos com um banco de meditação (como falo mais abaixo), enfim numa posição em que nos sintamos bem. Deitado já não é muito aconselhável pois podemos adormecer, o objectivo é que estejamos relaxados mas despertos.
Estas práticas mensais de meditação fizeram-me ver a meditação de uma perspectiva completamente diferente e voltaram a plantar em mim a sementinha da meditação.
Mas para ter a certeza de que eu não voltava a perder o hábito de meditar, resolvi ter uma ajudinha extra e instalar uma aplicação no telefone da qual toda a gente fala: headspace.
É muito simples, super intuitiva, tem meditações guiadas e alguns videos explicativos que complementam a meditação. Com uma linguagem simples explicam os princípios mais importantes da meditação e acima de tudo descomplicam esta prática, o que é fundamental! Pois se for complicado, quem quererá fazer? Ninguém claro!
Tenho usado a aplicação em qualquer sítio basicamente, em casa ou no carro.
No outro dia aproveitei uma pausa entre reuniões (em sítios diferentes), estacionei o carro junto a um jardim, liguei a aplicação e comecei a meditar.
Foi maravilhoso, parar a meio do dia de trabalho e dedicar uns momentos a mim própria. Isto nunca tinha acontecido. Ando sempre a correr de um lado para o outro… Fiquei como nova no final!
E tenho aproveitado bastantes vezes a hora do almoço para meditar, pois tenho tempo e consigo estar junto da natureza, o que para mim é o cenário ideal.
Mas voltando às práticas de meditação em grupo, que são óptimas para experimentarmos técnicas diferentes, para tirarmos dúvidas e para meditarmos durante mais algum tempo, pois ali sim sabemos que nada nos irá interromper e estamos totalmente comprometidos.
Na última prática apaixonei-me por um banco de meditação (ou banco seiza). O João costuma levar alguns bancos para experimentarmos durante a meditação e se gostarmos poderemos comprar.
Não aguento muito tempo na tradicional postura de meditação por causa das minhas costas, então como já tinha experimentado o banquinho e gostei resolvi arranjar um para mim (com este banco devemos ficar de joelhos).
Já em casa, pensei onde poderia ficar o banquinho para me chamar para a meditação mas percebi que no meu caso não haveria um lugar especial de chamamento!
Então resolvi deixá-lo no outro quarto, pois se quiser meditar mal acorde está perto e não tenho que passar pelo meu cão correndo o risco de ele acordar.
Quando quero meditar na sala (pois tem mais luz e é mais agradável) vou buscá-lo. Mas também medito sentada no chão, no sofá, na varanda, numa cadeira, no carro. Basicamente em qualquer lugar.
E é precisamente este o espírito! Pois o facto de eu ser extremamente rígida e achar que a meditação tinha que ser na posição tradicional sentada, de estômago vazio, antes do nascer do sol… estava a fazer com que eu simplesmente nem meditasse. Então prefiro não ter um horário nem local fixos! O compromisso é meditar 10 minutos todos os dias mas eu adapto a melhor hora e lugar (já meditei de estômago cheio e correu bem na mesma). Se não conseguir 10 minutos, então que seja 5, pois já é óptimo. O importante é garantir que temos este tempo para nós, sem desculpas. O facto de ter simplificado imenso, tem-me permitido manter esta prática diariamente. No meu caso era só isto que faltava, descomplicar! Bem falei aqui no antes feito que perfeito!
É preferível meditarmos 2 minutos do que não meditar de todo! Aos poucos será mais fácil irmos aumentando o tempo.
Complicamos muito e exigimos demais e esquecermo-nos de que o mais simples está sempre ao nosso alcance.
E tu quando começas a meditar?