Foi no início de 2009 que tive a minha primeira experiência minimalista (apesar de ainda não saber o que isso era). Vivi do outro lado mundo durante 3 meses com apenas o estritamente necessário.
Levei uma mala que costumava usar para viagens de 15 dias e mais um pequeno saco.
Decidi levar apenas o mais importante e que me iria realmente fazer falta. Não queria ir muito carregada e nem sequer me preocupei em levar as minhas coisas preferidas, pois como tive que fazer várias escalas há sempre a possibilidade de as malas se perderem.
Não contei, mas a roupa que levei foi certamente menos do que 33 peças. Afinal iria ter máquina para lavar e secar, portanto não iria precisar de muitas mais. As coisas mais importantes foram comigo no avião: o computador (que me permitiu estar sempre em contacto com a família, ouvir música, ver séries e trabalhar), o disco externo onde tinha todo o conteúdo do meu computador pessoal (fotos, música) e o iPod que me permitiu ouvir música e ver algumas fotos durante as viagens.
A casa onde vivi era um T0 com o básico apenas: cama, cómoda e armário para roupa; móvel e tv; uma pequena cozinha com mesa e 2 cadeiras, meia dúzia de pratos, talheres e copos e uma tigela para os cereais; máquina de lavar/secar roupa e um wc (também pequeno e simples).
Talvez tenha sido aqui que o desejo de ter menos despertou, apesar de na altura não ter sentido aquele efeito directo “mal chegue a casa vou livrar-me de tudo o que não me faz falta”. A verdade é que tive muitas saudades das minhas coisas e do meu espaço, portanto tentei compensar um pouco isso quando voltei e nem sequer me passou pela cabeça livrar-me de nada.
Os efeitos foram outros mas igualmente valiosos, passei a dar muito mais importância ao contacto com a natureza (lá fiz imensas caminhadas e tirei muitas fotos), passei a dar mais valor ao meu país (eu que sempre quis viver fora desde que me lembro!), ao sítio onde morava, às pessoas mais próximas, às coisas mais banais que possam imaginar, como por exemplo entrar num supermercado e ver as coisas de sempre (às quais todos estamos habituados). A sensação de ver coisas super diferentes e que não conhecemos pode ser agradável no início, enquanto é novidade, mas depois torna-se um pouco angustiante e foram só 3 meses, nem quero imaginar se tivesse sido mais tempo!
Sem dúvida que ganhei muito com esta experiência, não só a nível profissional, mas também pessoal. Descobri que as coisas mais simples e às quais não ligamos mesmo nada no dia-a-dia são as mais importantes, porque enquanto conseguimos manter o contacto com as pessoas mais próximas, com as coisas do nosso país não há como manter o contacto a não ser através de fotos e usualmente não andamos por aí tirar fotos das coisas mais banais… Às vezes as saudades são tantas que só queremos ver algo que nos é familiar! Tirando essa parte, foi óptimo estar em contacto com uma cultura completamente diferente, ter conhecido pessoas fantásticas, ter falado outra língua e ter aprendido muito sobre mim mesma. Nunca de outra forma teria testado os meus limites, a minha capacidade de adaptação e de lidar com vários problemas e nunca teria percebido o quanto o meu país e os meus me fazem falta. E curiosamente ainda hoje continuo a retirar lições daquilo que vivi… (foi o caso deste post!) Até porque depois de uma experiência como esta nunca conseguimos apreender tudo o que vivemos.
Ainda bem que o fiz! Voltaria a fazê-lo, não agora, mas naquela altura, que foi sem dúvida a altura certa.
Viver lá fora enriquece-nos muito e é algo que recomendo a toda a gente!