Eliminar o que não é importante

Cada vez gosto mais de espaços vazios, livres, que respiram!
E ainda gosto mais quando sei que esses espaços já estiveram cheios de coisas!
Os espaços vazios transmitem-me calma e paz. Sinto-me e sinto a casa leve!
E quero sentir o mesmo na minha cabeça e na minha vida (o que nem sempre é assim tão fácil). Espaço livre para organizar melhor as ideias que já cá moram e para receber novas ideias, novos projectos, novas formas de estar e viver. Mas com uma condição: têm que ser realmente importantes!
Às vezes o dizer não a pequenas coisas pode parecer insignificante, mas se dissermos não a muitas pequenas coisas, é óbvio que vamos sentir a diferença mais cedo ou mais tarde.
Vou dar-vos alguns exemplos simples e praticamente insignificantes, mas que ilustram bem que há coisas que só dão trabalho e que se vive perfeitamente bem sem elas.
Exemplo 1: Tentei deixar de usar rolos de papel na cozinha mas não consegui. Passei então a usar menos quantidade de papel e substituí-o pela versão reciclada. Ora como continuei a usar o dito papel, o porta-rolos era também usado, pois claro. É esse o seu objectivo, certo? Não, errado! Apenas estava a acumular pó e dava trabalho a limpar. O rolo aguenta-se em pé, sozinho, não precisa de apoio! Guardar o porta-rolos juntamente com o rolo também não dá jeito, pois o papel é algo que é usado frequentemente, sobretudo quando estamos a cozinhar e precisamos dele rapidamente. Assim há cerca de 2 meses resolvi arrumá-lo de vez e deixar apenas o rolo em versão “solo” no balcão da cozinha. Agora (passado o período de experiência) constatei que não fazia mesmo falta nenhuma. Portanto, adeus pó e trabalho e olá mais espaço no balcão da cozinha!
Exemplo 2: cá em casa todas as refeições são feitas na sala de jantar, pois não há mesa na cozinha (ainda bem que não comprei, a cozinha fica muito mais espaçosa assim) e a sala é mesmo ali ao lado. Para as refeições mais pequenas usam-se tabuleiros para transportar a comida e a louça até à sala. Ao pequeno-almoço costumávamos usar: uma chávena e respectivo prato, prato para pão/fruta e faca para barrar o pão. Como no final do pequeno-almoço gosto sempre de arrumar a louça, quanto menos louça tiver mais rapidamente arrumo a cozinha. A pensar nisso livrei-me dos pires: menos 2 pratos, mais rápido.
No outro dia em conversa, precisamente ao pequeno-almoço, tivemos a ideia de nos livrarmos também dos pratos para o pão/fruta. Afinal podemos comer directamente dos tabuleiros, pois os tabuleiros são lavados todos os dias tal como a louça! E assim eliminei mais 2 pratos. Poupa-se tempo, água, espaço na máquina… Ao fim-de-semana é diferente, há mais tempo, os pequenos-almoços são mais demorados e não temos horas para nada. Agora durante a semana quer-se tudo o mais simples possível, até porque gosto de tomar o pequeno-almoço nas calmas e se me puser com muitas cerimónias não tenho tempo para isso. O importante é mesmo eliminar o que não interessa e deixar apenas o mais importante, para que possa saborear verdadeiramente esta refeição (a minha preferida) e desfrutar da companhia do mais-que-tudo!
Exemplo 3: como levo o almoço para o trabalho, sempre levei faca e garfo. Afinal quase tudo é comido com faca e garfo, certo? Errado! Apenas necessito de faca quando levo panados ou bifes de tofu/seitan. Como usualmente levo massa/couscous e vegetais, um garfo ou uma colher chegam perfeitamente. Antes andava sempre com a faca “just in case” e raramente a usava… Claro que chegando a casa lava-a sempre pois tinha andado no saco. Portanto eliminei mais uma coisa para lavar diariamente.
Exemplo 4: O meu sofá tem 4 almofadas grandes que tenho mesmo que usar pois são o encosto do sofá. Mas além dessas almofadas ainda tive mais duas, das quais me livrei pois começaram a ficar em mau estado. Entretanto voltei a colocar outras 2 almofadas no sofá pois tinha-as no quarto e como simplifiquei a roupa de cama resolvi tirá-las de lá. Só que também no sofá estas almofadas me começaram a chatear, ora tirávamos porque não precisamos delas para nos encostarmos, ora porque nos queríamos deitar e tínhamos que tirar todas as almofadas… E sempre que tenho que arrumar o sofá lá tinha mais duas almofadas para colocar na ordem certa… Um dia pensei “chega de almofadas!”. Lavei as fronhas, voltei a colocá-las nas almofadas e arrumei tudo. Se algum dia voltar a precisar já sei onde estão.
Exemplo 5: Quando perguntei por aqui se deveria criar uma página para o blog no Facebook, a ideia era ter um contacto mais próximo com os leitores.
Mas vocês lembraram e muito bem: que iria dar trabalho, exigir mais tempo e que nem todos os leitores têm perfil no facebook… Após pesar os prós e os contras decidi que não vou criar a pagina.
Afinal o minimalismo é isto: perceber o que faz realmente falta e não adicionar nada só porque sim, sem pensar. E eu ando nisto há quase 2 anos, a tentar eliminar coisas para fazer, a reduzir tudo ao máximo!
Este exemplo permitiu-me precisamente pôr esta filosofia em prática. Devemos ponderar e reflectir se determinada coisa vai de facto acrescentar algo à nossa vida e mesmo sabendo que vai acrescentar, interessa saber se essa nova coisa compensa o esforço e tempo gasto.
E se eu até já ponderei eliminar várias vezes o meu perfil do Facebook, não faz sentido criar mais um perfil/pagina, não é?
Se mais tarde achar que é mesmo isso que quero, então vamos lá. Mas para já não acho que faça falta.
Criei o blog porque descobri que gosto imenso de escrever e porque acho importante partilhar aspectos da nossa vida que poderão ajudar os outros. Afinal é com essa intenção que também eu leio outros blogs.
Mas não quero ter a pressão de fazer isto ou aquilo (pressão que eu própria coloco em mim), de ter que publicar X posts por semana, de ter que fazer isto de determinada maneira porque é melhor, etc. A ideia do blog é ter algo que me dá prazer. Claro que não me importo que dê trabalho, pois escrever/editar posts/fotos é mesmo algo que gosto de fazer e que faria todo o dia se pudesse, mas não é só por gostarmos que o devemos fazer em demasia, pois afinal a minha vida não é só isto e ao dedicarmo-nos demasiado a uma coisa, acabamos por deixar outra de lado. Apesar do velho ditado “Quem corre por gosto não cansa” sei que não é bem assim, cansa menos, mas também cansa e eu ainda estou mesmo numa fase de aprendizagem desta vida em modo slowly e do ter menos coisas para fazer, por isso não quero voltar a ter 1001 coisas na minha to-do list.
O que tenho em mãos neste momento é suficiente e já me dá algum trabalho. Portanto é manter as coisas “low profile”, sem pressões, sem coisas à maluca, sem correrias.
O objectivo não é concorrer com ninguém, não é ganhar nenhum prémio, nem conquistar X novos leitores por dia.
É fazer isto para mim e partilhar com quem quiser passar por cá 🙂
  • Foto: Abigail

    Ana Milhazes, Socióloga, Coach, Formadora, Instrutora de Yoga, fundadora do Lixo Zero Portugal

    Bem-vindos ao Ana, Go Slowly!

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