Adoro o Alentejo…
O gaspacho que finalmente provei e que aprendi a fazer. Os bons vinhos a acompanhar saborosas conversas. O céu à noite tão puro e limpo como só no campo é possível. O sol logo de manhã. O acordar vagarosamente ao som da natureza. O pão alentejano (maravilhoso como sempre). As casas típicas, pequeninas e brancas. As ruas estreitas. O tempo que passa devagar. A calma com que tudo é feito e até falado. A pronúncia lenta e simpática. Aqui consegue-se verdadeiramente apreciar o agora, sem pensar em mais nada.
Já me disseram algumas vezes que não conseguiria viver aqui. Que visitar é uma coisa e viver é outra. Talvez. Não sei. Só sei que gosto muito de cá vir e de voltar. Sinto-me mais inspirada… na escrita, nos sonhos, na vida.
Só aqui se consegue ouvir apenas o silêncio. Só aqui andamos kilómetros e kilómetros completamente sozinhos. Só aqui conseguimos ouvir apenas a nossa respiração, sem pensar muito nisso, enquanto nas cidades temos que fazer um esforço enorme para nos concentrarmos.
Se antes tinha medo do silêncio, da calma, do não fazer nada, agora, cada vez mais tenho necessidade disso mesmo. Já tive medo de me ouvir, de me conhecer, mas isso passou. Sinto-me bem comigo e com aquilo que sou. Por isso gosto de paisagens assim, com planícies sem fim, de vazio, de silêncio total. Aqui somos mesmo obrigados a estar connosco próprios, sem rodeios, sem distracções.
Gosto mesmo de viajar no meio do nada. As estradas pequeninas, desertas e sem fim, mas que nos levam tão longe e ao mesmo tempo nos limpam a alma e a mente. É como se tudo se apagasse e ficássemos como novos. As preocupações de um ano inteiro, as chatices, as cismas dão lugar a uma tela em branco, pronta a ser preenchida com novas memórias.
E memórias foi algo que não faltou nestas férias. Trouxe muitas comigo. Até fotografei menos do que o costume, precisamente por isso, tentei apreciar ao máximo cada momento. Quis vivê-los intensamente e não me distrair com mais nada. Desde que li sobre este assunto que nunca mais vi as fotos (sobretudo em época de férias) da mesma forma. É muito bom podermos captar os momentos (até porque a nossa memória não consegue guardar tudo), mas às vezes preocupamo-nos demasiado em fotografar tudo e mais alguma coisa e esquecemo-nos do que está mesmo a acontecer à nossa volta. A vida não fica em modo pausa para ser fotografada, continua a acontecer. Por isso, em certas alturas, devemos simplesmente viver, sem fotos nem câmaras, apenas com a nossa memória. Afinal a nossa memória também sabe fotografar 🙂
Nestas férias sinto mesmo que descansei como nunca. E sei que isso não se deve apenas ao meu querido Alentejo. Deve-se sobretudo à minha forma de estar na vida: que de complicada, stressada e ansiosa passou a ser muito mais calma. Não é nada fácil (eu diria até impossível) entrarmos quase de um dia para o outro no ritmo férias. Não é só carregar num botão… Afinal estamos quase um ano inteiro a viver a um ritmo completamente diferente, muito mais acelerado, stressado, muitas vezes quase sem descanso. Por isso é que considero cada vez mais importante cultivar este espírito ao longo do ano. Só as férias não bastam para descansarmos verdadeiramente e para recuperarmos energias. É preciso fazê-lo diariamente. Arranjar formas de relaxar, de fazer tudo calmamente e sem pressas, de nos desligarmos totalmente.
Ter ficado offline, de redes sociais, de notícias, do e-mail, do mundo virtual e que anda sempre demasiado rápido, fez-me mesmo muito bem e contribuiu muito para que tivesse conseguido descansar plenamente. Espero com isto ter aprendido a desligar-me mais vezes durante o ano. A internet é para mim a televisão de muitos, um verdadeiro sugador de tempo. Faz-me mal e põe-me a cabeça a mil, quando eu preciso é de descansar (obviamente que tem imensas vantagens e eu nunca conseguiria viver totalmente sem ela mas é preciso pausar de vez em quando). Tudo na medida certa é o segredo para uma vida feliz, não vos parece?
Espero que tenham descansado tanto como eu 🙂