O desapego

Alguns meses depois de ter começado a minimalizar (a minha casa e a minha vida), senti que uma das grandes mudanças estava relacionada com o desapego às coisas, aos objectos.
Antes, quando algo lá em casa se partia ou se estragava ficava furiosa (quer fosse comigo ou com os outros), não tolerava que nada acontecesse pois era muito agarrada às coisas! 
Tudo aquilo que tinha em casa (e que ainda tenho) foi comprado com muita dedicação e quase tudo foi um grande investimento. Quisemos comprar coisas de qualidade para não termos que estar a trocar mais tarde… Uma coisa é mudar as cortinas, as almofadas… Outra bem diferente é mudar os móveis! Quando gosto mesmo de algo não me canso e por isso, mesmo que algum dia mudemos de casa, “vai tudo connosco”. Portanto, a decoração foi pensada, discutida e nada foi comprado ao acaso (estou a falar das coisas maiores claro).
Então sempre que algo se estragava custava-me muito e ficava triste! E por isso é que sempre disse que não podia ter animais em casa…
Hoje, continuo a gostar muito da minha casa e de tudo o que escolhemos, mas acho ridículo dar tamanha importância às coisas! São só coisas, mesmo! Podem ser caras, posso não voltar a encontrar algo igual, mas são substituíveis (coisas parecidas há sempre!) (as pessoas é que não se substituem!).
Esse desapego às coisas tomou mesmo conta de mim e alastrou-se a tudo o resto… roupas, calçado, televisão (sim porque antes eu não me imaginava a viver sem determinados canais! Hoje ainda tenho os mesmos canais, mas não por minha decisão, e vejo mesmo muito pouca televisão… portanto vivia bem sem ela), livros, cds/dvds, coisas que guardava de recordação, o ipod, computadores… sei lá, tudo e mais alguma coisa!
Uma altura fiz o seguinte exercício (vi num blog qualquer): “se tivesses que ir para o estrangeiro e tivesses muito pouco tempo para decidir o que levar, o que levavas?”
E por incrível que pareça foi muito fácil decidir! Não ia sem: a pessoa que amo, algumas roupas (foi muito fácil escolher as preferidas) e um computador (sobretudo para falar com a família, pois o resto pode-se fazer em qualquer sítio com computador e internet). Claro que para o estrangeiro não ia levar a mobília! Mas na altura pensei que se tivesse que ir viver para outro sítio ou se tivesse que mudar de casa e não pudesse levar a maior parte das coisas, o faria sem problemas. Já sei que imaginar é muito mais fácil do que efectivamente passar pela experiência, mas a verdade é que antes nem imaginar conseguia. Não conseguia simplesmente! Agora sei que o que faz uma casa não são as coisas, mas as pessoas que lá vivem!

Não tenho animais, mas sempre quis muito ter. Sempre achei que nunca poderia ter, pois nunca iria estar descansada, sempre a pensar que a qualquer momento algo poderia estragar-se (é giro como ao escrever me sinto paranóica mas eu era mesmo assim!!).
Sempre tive gatos e nunca fui assim, pois as casas não eram minhas! Quando a casa é nossa as coisas mudam um bocadinho…

A verdade é que agora estou mais do que preparada para ter animais. A minha casa nunca esteve tão vazia e eu estou completamente desligada das coisas! Agora só me ligo a pessoas e a momentos 🙂 E isso é uma libertação enorme! (adeus stress, olá desapego!)
  • Foto: Abigail

    Ana Milhazes, Socióloga, Coach, Formadora, Instrutora de Yoga, fundadora do Lixo Zero Portugal

    Bem-vindos ao Ana, Go Slowly!

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