Como vivemos em sociedade, sabemos que mais cedo ou mais tarde, as nossas opções e gostos poderão ser criticados ou postos em causa. Não controlamos o que os outros fazem ou dizem e, por isso, nunca sabemos bem o que poderá sair dali (sobretudo se forem desconhecidos). Assim podemos apenas controlar a forma como nós reagimos, certo?
Já fui criticada e gozada por ser vegetariana diversas vezes e em diferentes contextos. Como podem imaginar não é nada fácil, sobretudo quando somos os únicos num determinado sítio com esta opção de vida, enquanto todos à nossa volta só nos querem atacar. Como esta foi uma opção de vida muito consciente e informada, sempre me senti segura para argumentar e explicar os benefícios. Mas acreditem que não é nada fácil, as pessoas conseguem ser mesmo muito mázinhas, mesmo quando é uma situação que em nada as afecta…
Por isso, quando abracei o minimalismo na minha vida, já estava preparada, caso tivesse que ouvir coisas menos positivas. Mas também sabia que é mais difícil os outros descobrirem que sou minimalista do que sou vegetariana, portanto os comentários iriam ser certamente muito menos.
Os outros em casa: como lidar com eles?
Quando descobri o minimalismo falei com o meu companheiro e contei-lhe sobre o que andava a ler. Ele também percebia que eu andava muito entusiasmada e por isso as conversas sobre o assunto surgiam naturalmente.
O companheiro tem muito de minimalista dentro dele, só que é um minimalismo diferente do meu. Pensa muito bem antes de fazer qualquer compra, dá primazia à qualidade em detrimento da quantidade, gosta de uma decoração extremamente minimalista dos espaços e prefere roupas o mais lisas possível (sem qualquer referência a marcas). Mas (e há sempre um mas) a partir do momento em que adquire alguma coisa ou algo lhe é oferecido, tem muita relutância em se livrar seja do que for. Ou porque gastou muito dinheiro ou porque afinal temos espaço e por isso pode estar lá em casa (que diferença faz se não dá trabalho a limpar, pois está arrumado? E contra este argumento confesso que não sei o que responder…). Não partilha da minha panca por arrumações e organizações e como já é uma pessoa naturalmente organizada (o que é muito bom!), só faz grandes arrumações em caso de necessidade extrema. Se está tudo arrumado, não vê necessidade de andar sempre a rever e a editar, como eu.
É por estas e por outras que eu deveria ter encontrado o minimalismo mais cedo, pois assim teria comprado muito menos coisas para a casa… Agora tenho que ficar com algumas delas, mesmo não sendo essa a minha vontade… E como fazemos nestes casos? Entramos em acordo, pois claro.
Por exemplo, de 6 peças, dou 2 e guardo as outras 4, ou o contrário. Como temos espaço para guardar, não vejo problema. Claro que se eu morasse sozinha, já não tinha nada nos armários, mas como não moro, não depende só de mim. Se fico a pensar nisso e se insisto várias vezes para nos livramos das coisas? Claro que não! As pessoas mais importantes para nós são muito mais importantes do que qualquer desejo minimalista, por isso não perco tempo a pensar nisso.
Há apenas um pequeno truque que fiz algumas vezes e com o qual até nos divertimos: quando achava que alguma coisa estava a mais, escondia-a. As reacções poderiam ser várias, uma vezes apercebia-se e dizia “Este espaço está muito melhor. O que fizeste?” e neste caso concordávamos em nos livrarmos do objecto; “Onde é que está o X?” e aí negociávamos o que fazer, se era para dar, guardar ou se tinha mesmo que ficar ali; outras vezes, simplesmente não se apercebia que faltava algo e passado algum tempo eu perguntava se achava que aquilo fazia falta.
Mas nem tudo correu às mil maravilhas! Inicialmente cometi alguns erros e caí na tentação de arrumar coisas que não eram minhas. Aprendi que não devo fazê-lo (afinal os erros são para isso mesmo, para aprendermos) e também aprendi que o exemplo que damos é muito importante. Há muita coisa que o meu companheiro pensa, faz e diz graças a mim e isso é o melhor de tudo isto.
Portanto preocupem-se só convosco e verão que rapidamente arranjam seguidores. O importante é cada um respeitar o espaço e opinião do outro.
Os outros – familiares, amigos e conhecidos: como lidar com eles?
Quando alguém vem a nossa casa é mais fácil perceberem que somos minimalistas. Claro que a maior parte das pessoas não dá o nome de minimalista, mas percebe que temos pouca coisa. Comentários como: “a tua casa parece estar vazia”, “até parece que não mora aqui ninguém (isto não é só por haver pouca coisa, mas por estar tudo arrumado)”; “ainda estás a acabar de mobilar/decorar, não é?” e muitos mais. Agora rio-me porque sei o que é o minimalismo, porque me assumo totalmente como minimalista e porque quero continuar assim. Mas no início quando não me conhecia tão bem e nem sabia o que era isto do minimalismo (pois sempre gostei de ter pouca coisa lá no fundo no fundo), ficava triste. E claro, que estes comentários criavam a necessidade de comprar mais coisas para encher alguns espaços em casa, pois da próxima vez não queria ouvir os mesmos comentários. Por mais que digamos que não ligamos aos que os outros pensam, acabamos sempre por ligar, sobretudo se forem pessoas mais próximas. E se não tivermos determinadas defesas, então a influência é ainda maior.
Felizmente, agora tenho as minhas defesas e todos os objectos adicionados foram removidos da minha casa, um a um. Alguns ainda tenho, mas todos estão longe do contacto visual. Ficam tão bem escondidos.
E quando alguém se queixa que não tem tempo para nada? A minha vontade é logo começar a debitar tudo o que sei, mas temos que ter calma e não assustar ninguém. Costumo dar um ou dois conselhos e se me aperceber que a pessoa não está para aí virada, paro imediatamente e mudo de assunto.
Outras vezes, acabamos por nos surpreender e descobrimos que até temos um amigo minimalista (ou potencial minimalista), por termos ouvido determinado comentário. Então com esses aproveito para introduzir o assunto e trocar umas ideias. Quando isto acontece é óptimo! Temos um gémeo com quem conversar e partilhar ideias!
Infelizmente nem toda a gente está aberta a coisas diferentes do convencional. Estão habituadas a pensar de determinada forma e pensam e vivem de acordo com a sociedade em que estão inseridas. Também podemos abordá-las num momento em que não estão mesmos viradas para a mudança e então a coisa piora. Grande parte das vezes, as pessoas mudam porque algo despoletou essa mudança. Veja-se o caso da crise… Esta fez com que todos nós mudássemos alguns hábitos, já há muito enraizados. A mudança até pode ser muito positiva e agora estamos a adorar, mas teve que ser algo a despoletar essa mudança. Também há casos em que as pessoas resolvem mudar devido a determinada situação, mas quando a situação acabar, volta tudo ao mesmo.
Todos somos diferentes e temos vivências diferentes, por isso o importante é mesmo mantermos o respeito uns pelos outros. Quem não gostar, não ouve! Não é preciso criticar!
Enquanto isso, se não tivermos amigos ou familiares minimalistas, vamos mantendo o contacto com os que encontramos na blogosfera, aqui sim muito mais facilmente identificáveis.
Deixo aqui alguns testemunhos de outros bloggers sobre o assunto:
http://minimalismissimple.com/minimalist-living-with-a-non-minimalist-oh-boy
http://livinglagom.com/2012/09/24/living-with-a-non-minimalist
http://livinglagom.com/2012/07/30/how-to-love-a-non-minimalist/
http://www.minimalistathome.com/6-steps-to-living-peacefully-with-non-minimalists/
http://www.becomingminimalist.com/when-youre-a-minimalist-but-your-partner-isnt/